terça-feira, 9 de março de 2010

O Carnaval que passou

Como em todos os anos, os desfiles das Escolas de Samba e os Trios Elétricos de Salvador foram os alvos das atenções dos brasileiros.
A propósito dos desfiles, confesso que não gosto deles. Empenham rios de dinheiro, muitos deles obtidos do Poder Público; ganham quem?
E mais, as pessoas ficam a assistir os outros sambarem. Tem sentido? Dizem que para desfilar numa Escola o cidadão tem que desembolsar um bom dinheiro.
E o samba nesses desfiles? Martinho da Vila, compôs para a Vila Izabel um samba que é realmente samba, lento mas com letra e música (com alma); dizem que quando o apresentou ao Presidente da Escola este lhe pediu que desse mais rapidez e mais “voz” a ele porque o pessoal não gostaria do samba. É isso aí, o samba das escolas.
De bom mesmo deste Carnaval foi o fato de que os blocos de ruas, nos bairros (e até no Centro-Cordão da Bola Preta) do Rio de Janeiro sairam por volta de 150 blocos de ruas; em São Paulo iniciou-se um movimento para a volta dos blocos de ruas e estes foram sucesso em Recife.
Pena que a televisão pouco mostra desse feliz renascer dos blocos de ruas, onde a população samba e se diverte, ao invés de ficar sentado numa arquibancada, vendo as Escolas desfilarem.
Faço, entretanto, justiça às Escolas: elas estão sempre bem arrumadas e treinadas para os desfiles. A Unidos da Tijuca, com a inovação da troca de roupas em minutos, além de outros requisitos, obteve uma vitória emocionante, embora apertada.
Em São Paulo, a sempre reluzente Rosas de Ouro deu um show na passarela.
Enfim, acho que foi um bom Carnaval e espero que, nos próximos, os blocos de ruas cresçam cada vez mais em todo o País.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Roberto Silva: eu sou o samba.

Este que é um dos maiores sambistas de todos os tempos, atualmente, não tem merecido nenhuma grande homenagem.
Neste CD, “Eu sou o samba” ele desfila grandes sambas do passado. 1) Eu vou mandar prender...; 2) Você partiu...saudade me deixou. Agora é cinzas...(imperdível); 3) Nunca vi fazer tanta exigência...Você não sabe o que é consciência. Não vê que eu sou um pobre rapaz. Ai meu Deus que saudade da Amélia...(imperdível); 4) Eu sou o samba: A voz do morro sou eu mesmo sim senhor... Sou eu quem leva a alegria a milhões de corações brasileiros...(imperdível); 6) Aos pés da Santa Cruz você se ajoelhou... Em nome de Jesus um grande amor você jurou. Jurou mas não cumpriu...(imperdível); 9) Quem é você que não sabe o que diz...”; 14) Tristeza, por favor vai embora...Quero voltar aquela vida da alegria. Quero de novo cantar...(imperdível);


Registro: Não deixem de ver na TV-Brasil – Canal 4 (na NET) o programa de samba comandado pelo jovem Diogo Nogueira, às terças-feiras, 22 horas, trazendo sempre grandes nomes do samba de raiz (SAMBA NA GAMBOA).

DORINA - Samba de Fé

Dorina é uma sambista de raiz de verdade.
Em São Paulo é praticamente desconhecida, mas no Rio ela compõe cada bar, cada casa de show, dos bairros cariocas, onde todos a conhecem e a respeitam de há muito. Antes deste CD ela gravara “Dorina – samba.com” e depois, “Dorina e seus 10 anos de carreira”.
Nei Lopes, apresentou a cantora no seu segundo CD, em junho de 2000. Dentre outras coisas: “Moça de Irajá, bem escolarizada também, mas pós-graduada na brasileiríssima escola da vida dura e do samba bom. Diz ele que no primeiro CD ela faturou o prêmio SHARP de 1996 – veja a quanto tempo ama e canta o samba.
Pisando com força nesse chão, a interpretação segura, a voz personalíssima, a bela presença, a simpatia e a simplicidade como armas e lanças. Dorina se lança nesta nova empreitada. Provando que “fino trato”, mesmo, é tratar o samba como se trata a vida.
Com carinho, trabalho e talento. Sem Frescura”.
Neste último CD, lançado pela ROB Digital, Dorina desfila alguns dos mais genuínos sambas de raiz da atualidade, a maioria inéditos.
Destacamos: faixa 2: Banho de Fé (Arlindo Cruz, Sombrinha e Sereno). “Se você é de rodar. Ou se é de bater tambor, faça o favor. Tome um banho de amor. Um banho de cachoeira, Um banho de cachoeira. Faz levantar Acaba qualquer canseira. Banho de mar é bom para descarregar...”
- Faixa: “Obaxirê”.
Obaxirê. Mãe Senhora de Orun-Ayê...(imperdível).
- Faixa: “Apito no samba” (Luis Bandeira).
- Faixa: “Cheiro de saudade” (Sereno e Mauro Diniz).
“Vem com cheiro de saudade, vem
Pra mim com teu cheiro de amor
Trazendo nos teus olhos um desejo...”
- Faixa: “Na hora de voltar” (Adilson Garcia e Adauto Magalhães).
“Quando a saudade traz uma canção
Aumenta mais a solidão
À noite a lua ajuda só recordação. Faz despertar uma ilusão.
Eu lutei para esquecer não consegui...” (imperdível).
- Faixa: “Pedaço de ilusão” (Jorge Aragão, Sombrinha e Jotabê).
“Ai desse amor que é só meu
Nem a lua no céu, há de me ver sorrir
Se der para dividir, deixa um pouco pra mim.
Que eu nunca mais direi, que a vida Quis assim.” (imperdível).
- Faixa: “A Padroeira” (Rachado e Vaguinho) com participação especial de Beth Carvalho.
- Faixa: “Fidelidade Partidária” (Nei Lopes e Wilson Moreira).
“Por verde-amarelo na indumentária. Feijão com arroz na sua culinária. Ajudar quem tem situação precária. Não faz acordo com a parte contrária...”.
- Faixa: “Saudade demais” (Nelson Rufino, Roberto Chama e Carlos Chama).
“A lembrança de uma doce despedida
É tristeza que bate mas não dói
A certeza da cura ferida
Uma ânsia tão louca que não foi...”

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Sururu na Roda - Que Samba Bom

Trata-se de um grupo novo do Rio. Lançou este CD a Compact Disc. Foi um show gravado ao vivo no Centro Cultural Carioca em novembro de 2007.
A primeira faixa é “Samba Bom” (Geraldo Pereira).
A segunda é “De Maré” (de Roque Ferreira/Toninho Gerais).
A terceira faixa: “Mercado das Flores” (Rodrigo Maranhão).
“Vem, vem sambar/hoje a noite tem poesia ‘hora mas se tem’/o tempero é o de quem provar/o batuque é pra quem gostar/vai até o raiar do dia/faz dançar Maria e faz muito mais/eu vi gente bamba perder o juízo/sinuca de bico e sem solução...”.
A 4ª faixa é “Morena de Angola” (Chico Buarque de Holanda). Todos conhecem esta pérola do samba da nossa terra. Seu autor dispensa comentários. A música só tem um defeito. Sua letra é muito extensa e fala de tudo.
A faixa nº 5 é “Boca a Boca” (Nilze Carvalho/Cristino Ricardo). “O nosso amor se dividiu em mil pedaços se desfez no espaço/como uma bolinha de sabão/você foi pro sul e eu fui pro norte...”.
A faixa n.º 6 traz “Errei” (Nilze Carvalho/Fabiano Salek/Silvio Carvalho/Camila Costa).
Camila Costa que cantou uma música no CD antes comentado é uma das duas cantoras deste grupo.
A faixa n.º 7: “Sou gamado por mim” (Moadir/Beto Santos). “Ah...eu gosto muito de mim/ah eu sou gamado por mim/tem dias que me pego, me abraço e me beijo/me levo pro canto...”.
A faixa n.º 8 é “Aquele samba é meu” (Cristiano Ricardo/Da Silva).
“Aquele samba que o povo cantou na avenida/aquele samba é meu/é meu o samba é meu/quem fez aquele samba fui eu/é que eu não tinha uma camisa pra vestir...” (imperdível).
A faixa n.º 10 é "Correnteza" (de Edu Krieger). É muito bonita.
A faixa n.º 12 é “A volta/não sou mais disso” (Candeia/Zeca Pagodinho e Jorge Aragão).
“Quando eu pego a viola me esqueço da vida/mas não chora, não chora, é hora de partida/trago o samba no sangue e não posso ficar meu amor, não se zangue, que amanhã eu vou voltar/lhe darei uma flor, uma canção/pois o samba é minha oração/quando o sol clarear eu não tardo a chegar/pois o samba me leva e me traz/...”.
A faixa n.º 13 é “Balançada” (Camila Costa/Fabiano Saiek/Nilze Carvalho/Silvio Carvalho).
“Vou te mostrar/que o meu balanço/na hora h pode fazer/você balançar/o teu balanço/olhar de anjo/falam por ti/cê tá pedindo pra eu ficar...”.
Finalmente, na faixa n.º 14 temos “Onde o Brasil Aprendeu a Liberdade” (Martinho da Vila).

OBS.: contatos para show pelo e-mail: producao@sururunaroda.com e site: www.sururunaroda.com

As cantoras da Lapa - encantos do samba

Produzido por Ricardo Brito, o CD reúne as melhores cantoras que abrilhantam as noites dos bares da Lapa. Pena que, a rainha delas, que canta todas as sextas-feiras no Carioca da Gama, não está entre elas: Tereza Cristina.
A primeira faixa é “Feitiço do tempo” (de Alceu Moura com letra de Ricardo Brito e cantada por essa jovem revelação da Lapa, Ana Costa).
“Que bom você chegou/É tão bom te ver por perto/A noite está bonita/O dia mais completo...”
A faixa n.º 2 é “Quero ver você feliz” (Alberto Rosenvlit – letra Ricardo Brito – canta: Aninha Portal). “Quero ver você feliz/É verdade que nem ouço mais/Uma história de amor e paz/Quando a harmonia se eterniza em melodia...”.
A faixa n.º 3 é “Carioca da Gema” (Fernando Carvalho/Ricardo Brito – canta: Camila Costa).
“Essa é maravilhosa/Cidade das mais gostosas/Resistência do samba e do calor/Onde o novo também tem valor/Por isso vamos abrir/Espaço para ouvir/Um samba cujo tema/É carioca da gema...” (imperdível).
A faixa n.º 4 é “Quisera” (Ito Moreno – canta: Dorina).
Esta faixa tem letra genial e música muito linda. É realmente imperdível.
A faixa n.º 5 – “O longe não existe” (Fernando Carvalho/Ricardo Brito – canta: Elisa Adbor).
“O longe não existe/Se você está aqui/Morando no meu coração/Mas a saudade insiste/Em lembrar que sofri/Vivendo a nossa paixão...”.
A faixa n.º 6: “Agora é tarde” (Fernando Carvalho/Ricardo Brito – canta: Magali).
A faixa n.º 7: “Mundo Pequeno” (Ito Moreno/Ricardo Brito – canta: Márcia Lima).
“Ta difícil pra mim/Parar de sofrer/Quanta dor/Impossível pra mim/Tentar te esquecer/Meu amor/Ta difícil demais/Voltar a viver/Minha Paz/Impossível pra mim...”.
A faixa n.º 8: “Ainda vai chegar o dia” (Fernando Carvalho/Ricardo Brito – canta: Telma Tavares).
A faixa n.º 9: “Mais pra cá” (Ito Moreno/Ricardo Brito – canta: Verônica Ferriani).
A faixa n.º 10: “Coração Batuqueiro” (Ito Moreno/Ricardo Brito – canta: Vicka Barcellos).
“Pode chegar que o som do pandeiro já soou/Numa cadência que toca meu peito ao seu/É hora de me encher de beijos, vem amor/E meu coração batuqueiro vai ao céu/Sonhar e poder voar/...” (imperdível).

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O SAMBA DE RAIZ NA PERIFERIA DE SÃO PAULO

A Folha de São Paulo (dia 10.12.2009) publicou uma reportagem informativa, exaltando os sambistas de São Paulo (capital) que se dedicou a glorificar esse que é o nosso mais legitimo ritmo musical.
Diz a Folha: “Periferia renova samba de São Paulo” (Encontro Mutirão do Samba impulsiona novos sambistas como Douglas Germano, Adriana Moreira e Marquinho Dikuã).
A reportagem anota que nos anos 90 surgiram os primeiros sinais de saturação do pagode comercial. Ao mesmo tempo, as escolas de samba vinham deixando de agregar compositores para se tornarem um triste pastiche dos desfiles cariocas. Não havia mais espaço para os compositores. Alguns anunciaram a morte do samba, mas ele sobreviveu tímida e desorganizadamente, nos quintais e botecos da periferia paulista.
Em 1997, surgiu o Mutirão do Samba, um encontro de sambistas, visando o culto ao samba de raiz, a formação de novos talentos e a exibição de novos sambas. Douglas, um dos fundadores, via ali um estímulo à criação. “O Mutirão nasceu com a vontade de registrar nossa própria história. Neste grupo de 32 pessoas havia compositores, percussionistas de escola de samba e de botequim, instrumentalistas, cantores”.
Surgia algo novo em São Paulo. “Uma roda com composições próprias, que era ao mesmo tempo um encontro e um espaço de formação”, lembra Adriana.
A experiência do Mutirão serviu como inspiração para a formação de uma série de novas experiências. Projeto Nosso Samba, Samba de Vela, Samba Autêntico, Samba da Laje, Samba de Todos os Tempos, entre dezenas de comunidades.
“Surgiu uma série desses núcleos, a partir do samba tradicional”, conta Selito. “Ninguém agüentava mais aquela mesmice dos anos 90”, diz Kaçula. “A vulgarização das letras e a repetição das fórmulas de sucesso”.
As comunidades são um culto às batucadas, uma retomada do samba a partir da tradição, que gerou uma nova sonoridade paulistana.
Marquinho Dikuã acredita que as comunidades possam abrir uma nova possibilidade para sua geração de sambistas. Está em curso um “boom” de independentes de discos de samba. “Hoje há em São Paulo 30, 40 comunidades de samba que reúnem por ano 300 a 400 mil pessoas. Temos Público”. Caio coloca um porém: “A gente conseguiu se reunir para produzir, mas essa produção não consegue ser escoada. A pergunta é como quebrar a barreira e cair nas graças do povo”.
Essas assertivas são do jornalista da Folha, Thiago Mendonça.
Ao se citar alguns desses sambistas que compõem o samba renovado, são citados (dentre outros): T. Kaçula – Comanda o projeto Samba Autêntico. É fundador da Rua do Samba Paulista, que reúne 3.000 pessoas por apresentação; Marquinho Dikuã – Toca em bares da Vila Madalena e no Bar Brahma; Babal – É um dos principais representantes do Samba de Laje, um dos mais importantes movimentos de samba de São Paulo, que reúne até 2.000 pessoas.
Eis porque, como eu já disse aqui, o samba de raiz é eterno.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

ELIS REGINA – FASCINAÇÃO
(Lançamento da Phillips)

Embora Elis não tenha sido do samba de raiz, mas da MPB em geral, como foi a nossa maior intérprete de todos os tempos, vou aqui abrir uma exceção para levantar algumas das melhores faixas dessa que foi a nossa “pimentinha”.
As faixas que vou sublinhar são:

1. Lapinha (Baden Pawell/Paulo Cesar Pinheiro)
Quando eu morrer me enterre na lapinha,
Calça, culote, paletó, almofadinha.
Vai, meu lamento, vai contar
Toda tristeza de viver.
Aí a verdade sempre trai... (faixa n.º 4)

2. Como Nossos Pais (Antônio Carlos Belchior).
Só para lembrar: “Não quero lhe falar, meu grande amor, das coisas que aprendi nos discos...”

3. O Mestre Sala dos Mares (João Bosco e Aldir Blanc).
Há muito tempo nas águas da Guanabara. O dragão no mar apareceu na figura de um bravo feiticeiro a quem a história não esqueceu... Glórias, às mulatas, aos piratas, às sereias...”

4. Vou deitar e rolar (Baden Pawell/Paulo Cesar Pinehiro).
Não venha querer se consolar
Que agora não dá mais pé
Nem nunca mais vai dar...
Quaquaraquará...

5. O Morro não tem vez
E o que ele fez já foi demais. Mas olhem bem vocês. Quando derem vez ao morro...
Toda a cidade vai cantar...(participação especial de Jair Rodrigues).
Feio não é bonito. O morro existe mas pede pra ser acabar. Canta, mas canta triste... (segue-se um pout-pourri de sambas, sensacional).

6. Fascinação (D. Marchen M. de Ferady – versão Armando Lousada).
Embora este não seja um samba é (para mim) a música mais fascinante e linda que já se produziu em todo o mundo e em todos os tempos.
E essa interpretação da Elis é realmente imperdível.
Os sonhos mais lindos sonhei.
De quimeras mil, um castelo ergui.
E no teu olhar, tonto de emoção.
Com sofreguidão mil venturas previ
O teu corpo é luz, sedução
Poema divino cheio de esplendor.
Teu sorriso pende, enebria, entontece.
É, fascinação amor (imperdível).
Vale a pena guardar essa letra.

7. Atrás da Porta (Chico Buarque/Francis Hine)
Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus, juro que não acreditei. Eu te estranhei, me debrucei...

8. Dois pra lá, dois pra cá (João Bosco/Aldir Blanc)
Sentindo frio em minha alma
Te convidei pra dançar
A tua voz me acalmava
São dois pra lá, são dois pra cá
Meu coração traiçoeiro. Batia mais que o Bongô.
Tremia mais que as maracas...